sábado, 19 de maio de 2007

Giz

Estão duas luzes acesas, as duas projectadas na parede. Uma delas mostra caracteres desconhecidos aos demais, a outra ilumina de cima dois rectângulos de ardósia.
O actor dança e agita o giz, ao mesmo tempo que desenha sobre os quadros de ardósia belas figuras como as que balançam na parede.
A audiência absorta não tira os olhos do actor, a não ser para fazer o eventual apontamento, ou tenta copiar o que ilustra os rectângulos de ardósia. Quem passa pela entrada não percebe a magia desta peça, e é impossível transmiti-la.
Os que lá estão dentro tentam captá-la mas a muito custo, muitos não relacionam o brilho no olhar do actor com os caracteres que desenha, outros nem sequer o vêm. Porque é raro o actor enfrentar o público, mergulhado na escuridão do não saber, enquanto as luzes que sobre ele posam apenas realçam o seu saber.
Ele tem uma varinha. Mostra o desenho projectado sobre o branco cru da parede e depois tenta desmistificá-lo. Não faz magia. A magia está nos desenhos. A magia dos números numa aula comum.
Como podem dizer que não é belo este saber ?

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