terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Velhos...como os trapos

O baralho das cartas corre de mão em mão, cartas coçadas do manuseio, sebosas da arrastar nas mesas, nódoas de algum pingo de vinho caído sobre a fórmica da cobertura. Ele ajeita o boné que lhe cobre a quase calva cabeça onde, brancos como se fossem fios de neve escorrendo, alguns pelos teimam em resistir. Coça a própria cabeça numa longa pausa que não lhe era habitual. O parceiro seguinte desespera com a demora mas daqui a pouco será a sua vez de ajeitar o chapéu preto de abas curtas. Joga uma bisca de copas, temeroso. Só o Ás lhe poderá levar a vasa, mas pelas suas contas já terá ficado para trás. A não ser que a memória o tenha atraiçoado. A memória atraiçoa-o por vezes, mesmo quando senta no colo o neto e lhe conta uma história antiga. Por vezes confunde o Lobo Mau com o Pinóquio. Não, não, avô o Lobo Mau não é desta estória. O Ás de copas também não seria daquela história. Sorri quando a vitória também lhe sorri. Depois bebe um copo de vinho, limpa com as costas das mãos os cantos da boca. Cambaleia um pouco a caminho de casa e se não fosse a memória saberia que teria sermão ao trespassar a ombreira da porta. Mas ela, diz-lhe de repente a memória, ela já não existe. Talvez esteja no Céu a ralhar com ele...

domingo, 28 de janeiro de 2007

Bancos? Quem são esses?!

As novas regras bancárias de cálculo até à milésima das taxas de crédito entraram em vigor. Questionado sobre este assunto, o Governador do Banco de Portugal afirmou que esta é uma medida que “se impunha” e que “não tinha a noção da dimensão do problema” até uma reunião que teve com a Sefin (associação de consumidores e utilizadores de produtos financeiros).Só aí, por terceiros portanto, o Governador se apercebeu que os “arredondamentos eram exagerados” e que “careciam de correcção”.
E porquê que aparentemente o BP não actuou? Por falta de meios? Não. Eu tenho uma noção mais ou menos boa do BP para saber que por falta de meios e de recursos não é. O BP tem muitos funcionários, muitos inspectores, no BP ganha-se bem ou razoavelmente bem, a vida não é feita de stress, troca-se de carro de 3 em 3 anos, enfim...
O BP tinha possibilidades para tal. Mas tem competências definidas? Ahá! É aqui que a porca torce o rabo! O BP não tem competências definidas para, imagine-se, fiscalizar o que os Bancos fazem! Sim, leram bem! E se não tem competências definidas, tão pouco tem o dever de alertar para que as definam! E muito menos pode alertar quem de direito para o que se está a passar quando, claro está, ignora totalmente o que se está a passar!
Acrescentaria eu também a avaliar pelas palavras do senhor Governador de que "não tinha noção", que me parece que se está completamente c-a-g-a-n-d-o no assunto!! É o funcionalismo público em todo o seu esplendor. E talvez porque algo está obviamente mal, ao BP serão atribuídas futuramente competências de "supervisão comportamental”, talvez para que as Afinsas e os arredondamentos bestas em taxas e o que por aí há mais que não se sabe, sejam atempadamente detectados e resolvidos.
Até lá sugiro que a Sefin, grupo de associados que notam na carteira quando os estão a roubar, substitua o BP nas suas funções de fiscalização. Sai mais barato, são mais eficazes e as reformas milionárias, se as houver, são pagas do bolso dos próprios...

sábado, 27 de janeiro de 2007

Reflexão

Nunca um coxo treinou atletas para a maratona nem um mudo deu aulas de dicção.
Só os padres não prescindem de dar conselhos sobre a reprodução e a sexualidade!
Dá que pensar...

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Elsa Raposo

Se há gaja que eu curto a valer é a Elsa Raposo.
Quantas gajas neste mundo se podem dar ao luxo de dizer que já fizeram muitos, mas mesmo muitos, gajos felizes ao ponto de ficarem com um ar embevecido semelhante ao que Marques Mendes fez ao ver o Alberto João Jardim discursar.
Ela tem sacrificado a sua felicidade para fazer os outros felizes. É certo que por vezes são momentos de felicidade mais rápidos que a viagem de Metro da Rotunda aos Restauradores. Mas isso não é culpa dela.
Os gajos não se aplicam e ela acaba por entrar noutra onda. Vejam até o que ela é capaz de fazer por um gajo. Tatuar o seu nome ... É verdade que depois teve que ir ao senhor doutor apagar o nome do dito cujo. Portanto, quando quiserem ter uma referência genuína do que pode ser uma gaja verdadeiramente gaja, basta irem ao quiosque mais perto ver as capas das revistas do coração. Se por acaso não virem a Elsa Raposo, numa delas, abraçada ou aos beijos a um qualquer, das duas uma: ou está fechada em casa a curar a depressão ou está na clínica a tratar de limpar a última tauagem. Se por acaso a virem na capa com outro gajo, fiquem felizes por ele enquanto a coisa dura. É apenas mais um gajo a entrar para a longa lista da felicidade provisória.
Elsinha, és grande.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Tempo

Suspiro a cinzento escuro, nestes dias. Tenho o céu todo a trovejar nos olhos.É muito cinzento, mesmo para um amor daltónico. Cansa-nos a alma mal ela acorda. Não lhe dá espaço para rasgar um ou dois vincos de riso. Nada. Arrasta-nos para o fundo do mundo.
Quando era (ainda) mais novo adorava estes dias. Estava intimamente ligado com o facto de não haver aula de educação fisica. E isso enchia-nos de coisas para fazer. Mesmo à custa de nunca as virmos a fazer.
Hoje em dia, mais precisamente hoje, desmancha-me. Vento, chuva e frio não alimenta muita esperança aos olhos. Pelo menos aos meus. Dá vontade de esconder o dia de toda a gente e esticar as pernas numa casa de janelas cimentadas. Os dias cinzentos têm esse duro dom de descansarem uma lupa sobre o que quer que nos doa peito adentro. A lupa é tão grande...
Que venha o sol, nem que seja por um quarto de hora, para nos lembrar que há vincos na alma.

domingo, 21 de janeiro de 2007

Invisuais

Hoje, observei a dificuldade que têm em simplesmente ir ao supermercado...Fiquei surpreendido pois foi uma coisa que nunca pensei.
Quão mais fácil para eles seria se ao lado dos preços fossem colocadas placas que indicassem ao menos os tipos dos produtos em Braille.
Isto, sem falar obviamente dos "designers" de todos os instrumentos que "deambulam" pelos corredores e são um perigo real para quem não vê, como um simples porta-senhas preso a uma parede e que não é detectado pela bengala de cego...
Apenas uma simples "placa" em Braille...significa tanto para alguns.

sábado, 20 de janeiro de 2007

STOMP

Hoje fui ver STOMP.
Tendo como base o ritmo, e aliando a dança à coreografia e à comédia, o grupo originário das ruas de Brighton, no Sul de Inglaterra, captou de imediato a minha atenção, tal como o tinha feito á 3 anos atrás.
O espectáculo, variado, teve momentos samba com caixinhas de fósforos, drum 'n' bass com chapas metálicas e melodias minimais com tubos de diferentes tamanhos.
Num cenário tipo ferro velho, com reminiscências do filme Mad Max, houve também vassouras e lava-loiças, mais cadeiras e jornais rasgados, e ainda bolas de basquete e bidões, numa sinfonia polirrítmica de fazer bater o pé e sorrir.
O humor foi, aliás, uma constante ao longo da cerca de hora e meia em que os Stomp actuaram. O público passou o tempo todo a rir e a bater palmas.
Os oito performers (6 homens e 2 mulheres), bem distintos em termos de estilo e personalidade, criando diferentes personagens, conseguiram gerar um sentimento de grande empatia com o público. Daí a ovação em pé, no final da actuação, como forma de pedir um encore.
À saída ficou a certeza de que o tempo foi bem passado. Houve até oportunidade de aprender alguns ritmos, já que por mais de uma vez se criou um diálogo entre a audiência e os artistas.
Recomendo...

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Pequeninos

Somos pequeninos, e gostamos disso. É assim que somos. Cada um de nós vive numa bolha Actimel que lhe sacode o "próximo" dos ombros. Somos pequeninos, mas é por dentro. Nas nossas cabeças. Tornámo-nos bestas de cimento, bem cinzentas e frias, com suores que alguém nos fale na rua e nos obrigue a mostrar mais do que o cieiro. Somos demasiado importantes para quem carece de importância. Temos mais do que fazer. Não ganhamos nada com isso.Gostamos muito de coisas dadas. Não porque gostemos ou nos faça falta, mas porque... são dadas. Se dessem frasquinhos da Vista Alegre com gotinhas de Hepatite C, estávamos lá batidos. Somos pequeninos, e julgamo-nos em tripés.E não me venham com merdas que é a crise. Conheço pessoas que vivem com 40 contos por mês (sim, na moeda antiga), e romperam a bolha Actimel. Todos temos os nossos problemas, doa a quem doer. Para compensar tudo isto, tomamos medidas, e tornamo-nos irreverentes conformistas.Somos directos e fortes, mas nas mesas de café. Aí, mudamos o mundo. Elegemos presidentes, rasgamos as costas dos amigos, acendemos promessas de murros e contra-murros nas montras do "ai se fosse comigo...". Mas recolhida essa mesa, somos, uma vez mais, pequeninos. Engolimos tudo, fazemos a digestão e abraçamos o amigo das costas rasgadas. Mas fechamos os olhos, que a carne ainda está ali bem viva. Somos inertes. Queremos que o mundo mude, mas pela mão do outro, "que hoje não me ficava em caminho".
Acordem.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Terrorismo

A forma como nos estamos a comportar perante a ameaça terrorista vai moldar a nossa sociedade no futuro.
Em primeiro lugar tem que se reconhecer que nada justifica o terror. Seja em Madrid, Nova Iorque ou Israel.
Esta afirmação não deve porém escamotear que o fenómeno terrorista tem causas e que essas causas têm que ser tomadas em consideração, no processo de erradicação do terrorismo.
Todavia, o terrorismo tem uma característica que é geral. As motivações iniciais passam a ser meras referências sem densidade material. O terrorismo cai nas mãos dos operacionais, sem conteúdo político, cujo único objectivo é o terror, pelo terror.
Ao terror não se pode responder pela capitulação ou tentando passar desapercebido – o terror é cego e absurdo. Da lógica de um alvo preciso a abater, passou-se para a lógica da massa humana indiferenciada: Os alvos do terrorismo serão cada vez mais imprecisos e indetermináveis. O terrorismo precisa disso, dessa lógica cega e absurda, para implantar o terror absoluto e minar a vontade e as consciências.
O terrorismo é uma guerra de todos nós, porque pode atingir qualquer um de nós.

domingo, 14 de janeiro de 2007

Curioso, não?

Todos temos consciência que se morressemos amanhã, a firma onde trabalhamos substituía-nos rapidamente.
Mas a família que deixamos para trás, sentirá a nossa falta para o resto das suas vidas.
Pensando nisto, perdemos mais tempo com o trabalho do que com a Família, um investimento muito pouco sensato, não é?
Afinal, qual a moral da historia?
Poucos saberão o que significa a palavra FAMILIA em inglês.
FAMILY = (F)ATHER (A)ND (M)OTHER (I) (L)OVE (Y)OU "Pai, Mãe, amo-vos"
A eles o meu agradecimento por tudo o que me têm feito até agora.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Idade e Prazer

Gosto da ideia de estar a amadurecer. Do conforto que passar para além dos trinta me soube dar. Gosto da postura, da energia, da voz, de uma certa atitude de gente grande que ainda não perdeu as rédeas da infância. Da alegria espontânea de quem ainda sabe brincar e da contenção necessária de quem já se sabe adulto.Agora, numa idade em que, provavelmente, menos estarão pela frente do que os que estão para trás, não se me fale em contenção nem em brincadeira controlada. Não se me fale em ser adulto nem responsável. Falem-me, sim, em viver cada instante com o prazer de saber que não o poderia ter vivido melhor.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Beijos & Beijos

Há beijos que se dão como cumprimento, como demonstração de carinho, como demonstração de amor, como demonstração de paixão ... e ainda há os que se dão para angariar votos e outros que se dão ou recebem como obrigação e que não passam de um “grande frete”.
Neste âmbito, há beijos que me suscitam uma pequena dúvida:
- Será uma mera demonstração de afecto, normal e salutar, os beijos na boca entre progenitores e filhos, como por exemplo, entre um pai e uma filha ou entre uma mãe e um filho?...

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Justiça...e o seu simbolismo

Sempre que imagino uma mulher com os olhos vendados, uma balança numa mão e uma espada na outra, questiono-me:
- Como saberá ela se a balança está equilibrada?
- Se ela usar a espada, saberá o que está a fazer?
- Se dois dos seus sentidos, a visão e o tacto, não estão em condições de ser usados, quando ela fala, terá consciência do que diz e do que faz?
Conclusão:
Quem criou o símbolo da justiça era um autêntico profeta, dado que previu que mais tarde ou mais cedo a Justiça iria tornar-se Simbólica e que do pouco que viesse a fazer, pouco se viria a aproveitar ...

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Eutanásia

Eu adoro viver, assim como quase todas as pessoas deste mundo. O problema é quando a vida deixa de ser um prazer para passar a ser um sofrimento. Há casos em que o melhor seria pôr termo à vida da pessoa, mesmo que esta não tenha voz para dizer “sim”.
Sou, portanto, a favor da eutanásia. Imaginem o quão doloroso não será para uma pessoa não poder ver os familiares, os amigos ou a magnificência da natureza; não poder andar pelo seu próprio pé; não poder ouvir a música que mais gosta.
Uma situação deveras triste e insuportável. Que sentido faz uma pessoa viver dependente de uma máquina e com o cérebro praticamente morto? Por acaso isso é viver? Certamente que não. É certo que a Declaração Universal dos Direitos Humanos refere que ninguém tem o direito de tirar a vida a quem quer que seja. Mas também tiram-se tantas vidas todos os dias em guerras...
Dever-se-ia abrir uma excepção para a eutanásia no sentido do doente em causa poder ser livre de afirmar para porem fim à sua vida. No caso de perda de sentidos, julgo ser humanamente correcto o filho ou o irmão do doente terem também liberdade para pôr fim à vida do mesmo, uma vez que são feitos do mesmo sangue.

domingo, 7 de janeiro de 2007

Operações de Policia

Regularmente, em períodos em que se prevê um aumento do fluxo rodoviário, a polícia monta grandes operações, ditas de apoio aos automobilistas e com nomes aparatosos que dão a ideia que o seu principal objectivo é a segurança.
O realce dado a essas operações tem o dom de nos fazer esquecer que se há mais acidentes nesses períodos, tal se deve principalmente ao facto de muitos condutores se encontrarem em locais que desconhecem, normalmente pejados de armadilhas resultantes da falta de planeamento na concepção da rede viária aliada a uma deficiente sinalização.
Ou seja, se durante o resto do ano os agentes da autoridade andassem a verificar, a identificar e a rectificar a sinalização existente ou a dar apoio à eliminação dos pontos negros, certamente, não haveria necessidade de montar essas grandes operações.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Os Outros...Quem Somos?

Os outros são todos aqueles que num determinado momento não estão a fazer o mesmo que nós, nem são como nós ... são os maus, os feios, os "sem-jeito" ...ou seja, todos os que estão do outro lado da barricada.
Facilmente verificamos que esses outros, ao contrário de nós, tudo o que fazem, fazem errado ou poderiam fazer melhor e os seus erros jamais merecerão desculpa, pois, por mais insignificantes que estes sejam, são e serão sempre imperdoáveis e intoleráveis.
E como, na maioria das vezes, nos é difícil, a cada um de nós, aceitar que para os outros, os “outros” somos nós!...

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Aborto

Aborto é sempre aborto, voluntário ou involuntário. Morte é morte, natural ou provocada. Crime é sempre crime, embora possa ter ou não atenuantes.
Não sou possuidor da verdade, e tudo quanto expresso aqui é a minha opinião, tão respeitável quanto as dos outros.
Mas isto de ser ou não ser crime, faz-me meditar no seguinte:Roubar um pão é crime, mas o montante do prejuízo merece a compreensão da sociedade, e é impensável que o autor do roubo seja julgado e condenado a prisão efectiva! Já se roubar toda padaria o caso muda de figura jurídica.
Imaginem que uma pessoa encomenda um projecto para casa e depois inicia a sua construção. Já a casa está com todos os seus alicerces quando resolve, por qualquer motivo, anular a construção e novamente limpar o terreno.Pergunta-se: Destruiu-se uma casa ou deitou-se abaixo apenas algumas pedras?
Ora o mesmo se aplica com as gravidezes. Para mim, criança só é criança quando estiver cá fora e der o primeiro grito de vida.
Casa só é casa quando tiver o certificado de habitalidade!Quantas não são deitadas abaixo por serem clandestinas?
Sei que a figura de comparar o casamento a uma empresa ou sociedade para gerarem seres humanos, em que atribuo à mulher o poder de decisão de levar ou não a final tal empreitada, causa uma certa perplexidade.
O Homem é um ser racional, e embora fazendo parte do Universo da natureza, mas não a respeita e dela faz uso até à exaustão dos seus recursos!Basta ver as previsões que dizem que já antes de 2050 já não haverá recursos nos oceanos. Os Chineses há muito que perceberam a necessidade controlarem o número de filhos por casal e legislaram nesse sentido.
Sei que é muito bonito, fica bem, é poético, fraterno e solidário, mas dizer que deve haver sempre lugar para mais um é, para mim, um erro crasso.
É como quando um navio vai ao fundo e pensar que há botes de salvação para todos os passageiros. Todos sabemos que não é assim, e em caso de naufrágio sabe-se que há prioridades. Salvam-se uns enquanto outros se afundam com o barco.
Termino, desejando que haja muita tolerância...

Corrupção

Não é por acaso que Portugal sobe na tabela internacional da corrupção e não pára de descer no ranking da competitividade. Afinal, as duas coisas estão ligadas. A corrupção é um obstáculo sério ao progresso económico de uma nação.
A Justiça nunca mais funciona e a corrupção inunda todos os sectores da vida nacional. Os portugueses desconfiam das segundas intenções do polícia que passa uma multa, do árbitro de futebol que apita sempre contra a equipa do seu clube e ainda mais do político que faz carreira partidária à custa de amiguismos.
A cunha e a promiscuidade ilegal de interesses parecem ser as únicas formas de fazer andar a vida para a frente.
Afinal, como é que qualquer processo em investigação há anos e tratando de factos concretos, continua sempre no mesmo passo e nunca mais salta para tribunal? Perder a confiança na Justiça seria a vitória definitiva da corrupção.
E isso não pode acontecer.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Função Pública

Podemos enumerar dois tipos de função pública. Por um lado temos aquela que nos presta serviços, como os professores, médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar, quadros das finanças, polícia, bombeiros, juízes, advogados, pessoal dos tribunais, etc, etc.Por outro, temos a função pública dos gabinetes, do governo, dos consultores, dos secretários, das nomeações, das empresas municipais, dos deputados e dos seus gabinetes, dos governos civis e regionais, dos institutos, das fundações, etc, etc.
Ou seja, aquela função pública que não nos presta serviço algum directamente, encarregue de gerir o bem comum e que, com muita frequência, leva o rótulo de tacho.
Os nossos governantes, sempre que falam em cortes na função pública, referem-se invariavelmente àquela que nos presta serviços. O que se traduz, em consequência, na redução da qualidade do serviço prestado. Por exemplo, menos auxiliares de limpeza nas escolas, menos maternidades, menos pessoal na justiça, menos médicos, menos polícia, etc. Não é notícia frequente algo como "este ano o Ministério X vai funcionar com menos Y pessoas" ou "a Secretaria de Estado Z vai realizar o mesmo trabalho com menos orçamento", mas certamente que também aqui haverá dinheiro que se gasta sem necessidade.
Numa altura em que tanto se fala de transparência, aqui se compreende a habitual desconfiança sobre a boa fé do Estado.