sexta-feira, 8 de junho de 2007

O encontro do antes e do depois...

O antes e o depois não podem ter lugar num espaço comum, seria o fim do conceito de tempo...Há muitos anos que não entrava naquele local. Uma pastelaria dos meus tempos de estudante de secundário. Pedi um café e uma água. O dono da pastelaria, o mesmo que tantas vezes me emprestava a mim e aos meus amigos um baralho de cartas para jogarmos à sueca entre horas livres e aquelas que nós fazíamos ser livres, acenou-me um meio sorriso simpático e olhou-me como se a minha cara não lhe fosse estranha, mas a incerteza talvez não lhe tenha permitido fazer-me qualquer pergunta.
Sentei-me nas mesas da sala de dentro, o “cantinho dos fumadores”, e senti-me estranho, mentiria se dissesse que me sentia como há anos atrás entre uma torrada e um galão e um maço de tabaco comprado a meias com um amigo no primeiro intervalo da manhã. Não, não me senti assim, senti que o tempo passou, mesmo as mesas sendo as mesmas, mesmo o dono mantendo o seu sorriso simpático, mesmo que na mesa ao lado da minha houvessem 4 putos a jogar à sueca com um maço de tabaco acabado de abrir, senti que o tempo passou e senti que ali, apenas restavam fragmentos de um eu tão distante de quem hoje sou.
Bebi o meu café, bebi a minha água, fumei o meu cigarro, paguei com uma moeda de 1 euro e um boa tarde obrigado e saí. Antes nunca saíria dali sem um pacote de pipas para comer nas aulas de História, ou um punhado de rebuçados que deixavam a língua vermelha, tudo com apenas uma moeda de 100 escudos ou menos.
Entrei na minha antiga escola, também já há alguns anos que não o fazia. Os mesmos corredores, aquele cheiro estranho que nunca consegui entender o que era, mas que se espalhava pelos corredores e entrava pelas salas adentro, que se entranhava nas mesas e nas cadeiras, nos quadros de giz, nos livros de ponto, na voz dos professores, na minha mochila, na minha roupa, nos meus colegas, que se espalhava por toda a parte. Entreguei-me em passos pelo pátio da escola. Os cantos e recantos de antes, já não existem... os bancos de madeira de tantas manhãs e tardes, estes são outros, estes não guardam as conversas intermináveis entre amigos, os desabafos, os namoros entre aulas, muitas das minhas lágrimas, tantas e tantas gargalhadas e sorrisos dos mais diversos feitios e cores.
Cruzei-me com um pouco de mim por aqui e por acolá, mas não creio que me tenha reconhecido, não creio que fizesse sentido sequer falarmos, quanto mais que esse meu eu me tivesse reconhecido e se tivesse dirigido a mim com um aperto de mão e me pedisse um cigarro ou lume depois de uma aula de educação física. Não faria sentido.
Não sei o que lhe diria se ele agora me perguntasse sobre os sonhos de antes, os medos, o que faço agora, se amo alguém, se sou feliz, se consegui o queria, não sei. Talvez lhe mentisse sobre algumas coisas e talvez dissesse a verdade sobre outras, ou então omitiria algumas coisas, talvez apenas me limitasse a sorrir e dissesse para esperar mais um pouco, tudo a seu tempo, não sei, sinceramente não sei.
Saí pelo portão de sempre, antes do toque de saída, e não voltei a pé para casa como antes entre “um grupo de raparigas e rapazes”.
Fui de carro, sozinho.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estás velho...