sábado, 16 de junho de 2007

Histórias

Por vezes as histórias misturam-se entre si, tornam-se complexas e temos a necessidade de parar um pouco. Pensar sobre elas, olhar para elas, tocá-las, sentir o que elas são, para poder continuar a contá-las.
As histórias nunca chegam realmente a um fim, existe sempre um continuum, um depois, um a seguir após um entretanto. Se pensarmos bem, as histórias nascem e renascem no seu próprio seio, na sua própria vontade e não na do seu contador.
Elas, as histórias, possuem vontade própria, são caprichosas, teimosas, senhoras do seu próprio nariz. Envolvem-se e deixam-se amar, apenas por quem elas escolhem, desprezando sempre aquele que mais as ama, o seu contador.
Irónico não é?
Falemos um pouco mais de histórias. Aquelas que são memórias e recordações como as de este contador, são de humor volúvel, instáveis. Frutos de insónias; velhos medos; dores escondidas em sufoco; mas também sorrisos e dias especiais, em que se fala de alguém que se ama, ou do abraço que alguém nos deixou um dia mas que ainda nos conforta. Histórias de memórias todas elas em harmoniosa confusão. Todas elas a querer ser contadas ao mesmo tempo, à mesma hora, e como o próprio tempo é efémero, as próprias histórias temem o seu destino e por isso vivem em ansiedade.
E o que deve ser feito?
Parar um pouco, reflectir, sentar à mesma mesa histórias e contador, todos em silêncio, fazer que façam as pazes, e que histórias não sejam apenas amadas pelo contador, mas que amem também um pouco do mesmo. As recordações de cada um constroiem um passado, são parte de um presente e determinam o dia de amanhã de quem fala com elas, de quem se senta ao seu lado, de quem no fim de contas, as conta. Não são apenas histórias, são tempo do nosso tempo, são parte do nosso todo, e quando nós já não formos, elas ficarão no todos de outros.
Nós somos como o tempo, efémeros, as nossas histórias talvez não.

1 comentário:

Anónimo disse...

Acredito na eternidade das histórias, mas também acredito na eternidade do ser humano. São ambos o mesmo, cada ser humano é uma história, como pode ser efémero?
Tullia