segunda-feira, 23 de julho de 2007

Desejo

O desejo não morre sozinho: matamo-lo.
A golpes de sabre e de baioneta, a rajadas de gê três, a copázios de veneno para ratos, seiscentos e cinco forte. Agarramo-lo pelo pescoço e estrafegamo-lo; enforcamo-lo num nó corredio e regozijamo-nos, enquanto balança e paira sobre nós, roxotumefacto. Decapitamo-lo, a cabeça aos pés do inimigo em jeito de triunfo, e estacamo-lo em cheio no coração, empalando-lhe os ais. Cortamo-lo pela raíz e desmembramo-lo, para logo a seguir o enterrarmos e o deixarmos a apodrecer na cova do apaziguamento.
Mesmo assim, ele ressuscita a espaços, para nos atazanar o juízo, moer a pacatez dos dias e nos aterrorizar os sentidos, com um passo mecânico de zombie e a humanidade ausente do seu olho esquerdo vazio.
O desejo: o verdadeiro protagonista dos filmes gore que são todas as histórias que se crêem de Amor, feitas de corações aos pulos e sustos na cadeira por entre baldes (de água fria) de pipocas.
Vejo-o ao longe, os braços esticados na minha direcção, as unhas engalfinhadas e sujas da terra dos mortos, perseguindo-me e babando-se, sedento de carne viva. A minha.

2 comentários:

Escultora disse...

o desejo, nunca podera morrer ou ser desfeito pois ele esta presente no ser humano faz parte dele esta enraizado,seja pelo que for...ele o desejo alimenta-se da sua propria raiz, e depois de saciado adormece....ele "o desejo" nao deve ser entendido como algo despressivel ....se nos faz sentir bem ....

Escultora disse...

o desejo, nunca podera morrer ou ser desfeito pois ele esta presente no ser humano faz parte dele esta enraizado,seja pelo que for...ele o desejo alimenta-se da sua propria raiz, e depois de saciado adormece....ele "o desejo" nao deve ser entendido como algo despressivel ....se nos faz sentir bem ....